Nessa temporada de premiações internacionais, o filme brasileiro “Ainda estou aqui” vem chamado bastante atenção, seja com as indicações de Fernanda Torres a melhor atriz ou seu feito inédito ao concorrer na categoria de melhor filme no Oscar. De toda forma, o realizador desse longa, o cineasta Walter Salles, traz a tona um conceito esquecido há um tempo: o mecenado.
Walter Salles no Globo de Ouro 2025 (Fonte: AFP)
Walter Salles: O cineasta herdeiro
Walter Moreira Salles Jr. é um cineasta e produtor carioca que possui diversos filmes de prestígio em sua carreira: Central do Brasil, Abril Desperdiçado e Diários de Motocicleta. Reconhecido internacionalmente, possui renomados prêmios no universo cinematográfico e ainda participa das votações da Academia, responsável pelo Oscar.
Com uma fortuna avaliada em cerca de 4,6 bilhões de dólares, Salles é o 3º cineasta mais rico do mundo, somente atrás de Steven Spielberg e George Lucas. Seu grande patrimônio é consequência de ser um dos herdeiros do grupo bancário Itaú Unibanco.
Além disso tudo, a família do diretor tem em seu catálogo de empresas, o Instituto Moreira Salles, cujo objetivo é a promoção, a formação de acervos e o desenvolvimento de programas culturais nas áreas de fotografia, literatura, iconografia, artes plásticas, música e cinema. Este local foi fundado pelo patriarca da família, o diplomata e banqueiro Walter Moreira Salles.
Como se pode notar, esse grupo familiar agrega bastante na contribuição cultural do país. Seja na área do esporte, como por exemplo seu contrato com a ginasta Rebeca Andrade, ou no programa literário “Leia com uma Criança”.
Numa época que cada vez a cultura brasileira é desmerecida pelo próprio povo, casos como os Moreira Salles parecem ser um ponto fora da curva do que uma realidade comum.
Mecenato: Um conceito esquecido pelos novos-ricos
O mecenato é uma prática de estímulo à produção cultural e artística, que consiste no financiamento de artistas e de suas obras. Esse termo é um ato presente desde a Antiguidade e esse nome remete ao romano Caio Glínio Mecenas (69–8 a.C.), que financiou artistas como Virgílio e Horácio. Talvez muitos tenham essa ideia de mecenas com os Medici, uma família italiana que possui muita contribuição para o movimento artístico do Renascimento.
Esse artifício não somente impulsionava a cultura do local, mas também demonstrava uma coisa: poder. Os grandes conglomerados envolvidos expunham sua posição perante a sociedade ao patrocinar diversos artistas e terem seus nomes — mesmo que indiretamente — marcados na história.
Porém, na conjuntura atual, em que há uma crescente ascensão de pessoas assumindo o patamar de milionários e que clamam aos quatro ventos seu poder ao mundo, nota-se que o incentivo à cultura do país já não é valorizado.
Muito se fala, na época das Olimpíadas, sobre grandes potências esportivas e como o Brasil poderia ser também uma grande referência nesse quesito. Sempre que um atleta brasileiro se destaca numa modalidade, há uma comoção nacional e eleva a sensação de que ter uma identidade nacional mais fortalecida, mesmo que em pequena escala.
Porém, ao analisar o histórico, nota-se o baixo investimento privado, principalmente de pessoas com relevância na mídia. Ao invés disso, muitos ‘‘influenciadores’’ preferem divulgar casas de apostas que geram à população elevadas dívidas do que contribuir positivamente para a melhora do país e maior reconhecimento dos atletas ao nível global.
No campo das artes, momentos como os das Fernandas no Oscar e de Anitta em grandes eventos musicais inflamam aquele pressentimento que essas ocasiões representam toda uma nação. Por outro lado, quando o assunto é ajudar artistas independentes a alcançar essas marcas histórias, muitos fecham os olhos e podem chegar a audácia de desmerecer o próprio compatriota.
A futilidade atual somente demonstra o desprezo por tudo que é nacional e valorizam muito mais aquilo que é de fora. Será quem algum dia o mecenato voltará a ter a pujança que outrora teve?
Conclusões
Além do reconhecimento internacional ainda maior que já possui, Walter Salles mostra a sociedade a importância de investir na cultura. Fazia tempos que o brasileiro não ficava tão emocionado e ativo com a própria identidade quanto nesse período que ‘‘Ainda Estou Aqui’’ tem entregado.
Os poucos que ainda se importam com essa veia artística do Brasil, inclusive muito valorizada no exterior, contribuem para garantir a manutenção de uma cultura tão rica e miscigenada como a brasileira.
Quem sabe quando essa nova burguesia abrir os olhos e recuperarem o tesouro que estão deixando escapar, o país retorne a se tornar uma grande referência que um dia foi ao longo dos tempos.