Histórias em quadrinhos e o incentivo a leitura

Desde às aventuras dos super-heróis às clássicas tirinhas da Turma da Mônica, as histórias em quadrinhos (HQ) vêm encantando gerações de pessoas. Com uma fluidez entre as cenas ilustradas, os gibis alcançam os mais diversos públicos, de crianças em fase de alfabetização até adultos que procuram desconectar-se da realidade e buscar refúgio nas páginas coloridas.

Num país onde a média anual de leituras por habitante vem caindo significativamente a cada nova pesquisa, esse formato literário possui um grande papel na contribuição de ingresso das pessoas ao universo dos livros.

Gibi da Turma da Monica (Fonte: Editora Mauricio de Sousa)

A origem das histórias em quadrinhos

A estrutura moderna das HQ, como é conhecida atualmente, apareceu com o desenvolvimento da imprensa e a popularização de jornais e revistas ilustradas. final do século XIX marcou essa nova era mundial de histórias ilustrativas, nos Estados Unidos, com a publicação das historinhas do “The Yellow Kid” ('O Menino amarelo', em tradução livre) em 1895. 

No entanto, esse tipo de gênero literário é, na verdade, mais antigo, com alguns historiadores indicando que as pinturas rupestres poderiam ser de certa forma uma maneira de contar ao restante da comunidade as aventuras das caçadas.

Além disso, as pinturas da via-sacra — datadas no século XVI — da Igreja Católica, cujo conteúdo é a representação do julgamento e crucificação de Jesus de maneira sequencial, de certa forma, também podem ser entendidas como histórias em quadros.

No Brasil, esse gênero possui registros de por volta de 1869 com o ítalo-brasileiro Ângelo Agostini e a publicação de “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”. 

Porém, foi somente em 1905 que a primeira revista em quadrinhos fora lançada, “O Tico-Tico”, marcando assim uma nova onda de contos neste formato.

Nesse contexto, surgiram grandes cartunistas e personagens icônicos da cultura brasileira, como Ziraldo, autor do “Menino Maluquinho” e Maurício de Sousa, criador da “Turma da Monica”.


Aprendizagem e inclusão

Além de serem uma maneira fácil e divertida de incentivo à leitura ainda na terna infância, as HQs promovem a interpretação não-verbal. As ações implícitas — seja através das expressões dos personagens ou por elementos apresentados no fundo da cena — exigem que a cognição das nuances do mundo sejam aprendidos. Até porque uma imagem vale mais do que mil palavras.

Uma troca de olhares, uma mudança entre tonalidades dos desenhos, entre outros fatores, alteram totalmente o significado oculto da cena e adicionam mais dinamismo que uma sequência bem construída de palavras.

Além disso, esse gênero contribui para o estímulo ao aprendizado de pessoas com questões neurológicas, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Com uma linguagem simplificada e dinâmica, os quadrinhos permitem uma maior fluidez na leitura, contribuindo para um maior foco da pessoa, um efeito contrário de se obter em textos mais densos e longos. Também ajuda no desenvolvimento socioemocional e cognitivo do indivíduo atrelado a um acompanhamento terapêutico.

Para a comunidade surda, as HQ possuem uma mais-valia enorme, ao introduzir situações do cotidiano mesclando a Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais (Libras) e personagens também com algum grau de surdez. Dessa forma, além de trazer a representatividade dessas pessoas, os quadrinhos contribuem para inserção das Libras para o restante da população, aumentando assim a socialização e inserção da população surda nos restantes âmbitos da sociedade e o incentivo ao aprendizado da segunda língua oficial do Brasil. Também tem como consequência a diminuição — mesmo que mínima — dos preconceitos.


Clássicos adaptados

As histórias em quadrinhos também ajudam uma nova geração em interessar-se em clássicos da literatura.

A editora Ática, por exemplo, lançou uma coletânea de diversos clássicos da literatura brasileira em formato de HQ. De “Dom Casmurro” a “O Quinze”, esse conjunto de livros abre portas para diversos novos leitores embarcarem nas ricas obras literárias que o país possui.

Ao invés de linguajar culto e com um português arcaico face à linguagem utilizada atualmente, os quadrinhos, além de trazerem uma nova roupagem aos clássicos, visa simplificar a escrita robusta e, de certa forma, complexa para a maioria da juventude.

A introdução da atual geração a outros tipos de literatura por meio desse gênero ajuda a aumentar lentamente a quantidade de leitores e de livros lidos ao longo do ano pela população. Uma história que faria alguém gastar dias numa leitura, pode ser simplificada para algumas horas de entretenimento. Assim, um novo horizonte é descoberto pelas pessoas e o “bloqueio” pela leitura de clássicos literário pode ser rompido com essa nova abordagem.


Conclusões

O incentivo a leitura pode ser abordado por diversos mecanismos e sem dúvidas as histórias em quadrinhos é uma maneira extremamente eficaz de contribuição.

Compreender a importância dessa modalidade de livros, permite a percepção e validação todo tipo de leitura, seja ela clássica e robusta como a sociedade acadêmica exige ou leve e descontraída, mas que, ao mesmo tempo, muda vidas.

Portanto, ao invés de julgar quem gosta desse tipo de literatura e desprezar histórias tão ricas, talvez seja a oportunidade perfeita da sociedade entender o fascínio de muitos têm por esse curioso gênero literário chamado Histórias em Quadrinhos.

1 Comentários

  1. Adorei! A turma da Mônica em si, fez uma diferença significativa na minha infância e adolescência. Hoje, meu apego a leitura e escrever veio inteiramente das histórias do Mauricio.

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