Debí tirar más fotos, o álbum do Bad Bunny como arte da resistência latina.

Benito Antonio Martínez Ocasio, conhecido internacionalmente como Bad Bunny, é um cantor, rapper e compositor porto-riquenho. O artista se destaca no cenário internacional por suas músicas de trap latino e reggaeton.

Reprodução / Instagram @badbunnypr

No início de sua carreira, Bad Bunny postava suas músicas no aplicativo SoundCloud. Pouco tempo depois, foi contratado por uma gravadora, enquanto ainda trabalhava em um supermercado e era estudante da Universidad de Puerto Rico, em Arecibo, Porto Rico.

Bad Bunny lançou seu primeiro single, "Soy Peor", no final de 2016. Em seguida, fez sucesso ao participar da música "I Like It" da cantora Cardi B, junto com J Balvin, cantor de reggaeton. Seu álbum de estreia, X 100pre, foi consagrado com um Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Urbana. O cantor tem seis álbuns de estúdio solo e um álbum em conjunto com J Balvin, Oasis, lançado em 2019.


Seu sexto álbum solo, Debí Tirar Más Fotos, lançado no dia 5 de janeiro de 2025, traz reflexões sobre a exploração e neocolonização imperialista dos Estados Unidos em relação a Porto Rico nos últimos anos. Com letras expressivas e um reggaeton envolvente, o álbum impõe a arte latina como resistência.


Nos últimos anos, Bad Bunny tem se posicionado como um forte aliado das lutas sociais do povo porto-riquenho. Em 2022, lançou o mini-documentário "El Apagón – Aquí Vive Gente", que acompanha o álbum Un Verano Sin Ti. O documentário expõe de forma clara a crise energética enfrentada pelo país desde a passagem do furacão María, em 2017, que deixou cerca de 4 mil mortos. Além disso, denuncia a neocolonização da ilha caribenha.


O mini-documentário mostra, por meio de uma reportagem, imóveis ao longo da ilha sendo adquiridos por milionários estadunidenses, que os transformam em hotéis, Airbnbs e propriedades privadas, expulsando moradores locais de suas casas. A reportagem foca no bairro de Puerta de Tierra, na cidade de San Juan.


Uma das entrevistadas no documentário, Laura Mía González, afirma: "Eu os chamo de colonizadores, pois eles se comportam como tal."


O documentário ressalta como a história não apenas do bairro, mas de toda a ilha, tem sido constantemente apagada por neocolonizadores que tomam suas terras com o auxílio do próprio governo e suas leis ineficazes. Durante o documentário, aparecem imagens de protestos de moradores contra os estadunidenses que se mudaram para o país atraídos pelas baixas taxas de impostos e pela desvalorização dos imóveis após o furacão María. O slogan dos protestos, "Gringo, go home!", é repetido diversas vezes.

Outro tema abordado no documentário é a privatização das praias de Porto Rico. Construções privadas obstruem o acesso às praias, impedindo que os porto-riquenhos as usem, já que não podem entrar em propriedades privadas.

O título El Apagón faz referência à crise energética que o território enfrenta após a passagem do furacão María, em 2017. A companhia elétrica Luma Energy, que assumiu o fornecimento de eletricidade na ilha, tem sido constantemente criticada pelos porto-riquenhos devido à má gestão da distribuição de energia, o que resulta em apagões diários desde 2021. No final de 2024, Bad Bunny voltou a se posicionar contra os problemas sociais lançando a música "Una Velita", que critica mais uma vez a crise energética do país.

Reprodução/Instagram @badbunnypr

Com seu novo álbum, Bad Bunny novamente traz à tona as questões da neocolonização em suas canções, com referências à cultura latina e sua importância. Suas músicas abordam questões sociais e político-econômicas que afetam grande parte da América Latina.


Na canção "Lo que le pasó a Hawaii", Bad Bunny fala sobre pessoas que estão deixando a ilha, muitas vezes expulsas de suas casas e sem ter para onde ir.


Trecho: "Se oye al jíbaro llorando, otro más que se marchó  

No quería irse pa' Orlando, pero el corrupto lo echó"


A música também faz referência à Lei 53 de 1948 de Porto Rico, conhecida como "Ley de la mordaza", que tornava crime empunhar uma bandeira porto-riquenha. De certa forma, toda a canção é uma lamentação pela perda do território que pertence ao povo porto-riquenho por direito.


Trecho: "Quieren quitarme el río y también la playa  

Quieren el barrio mío y que abuelita se vaya  

No, no suelte' la bandera ni olvide' el lelolai  

Que no quiero que hagan contigo lo que le pasó a Hawái"


Na música, Bad Bunny também relembra a invasão imperialista dos Estados Unidos ao Havai, que resultou na anexação do território estadunidense. É importante notar que Porto Rico é um território não incorporado dos Estados Unidos, e Bad Bunny sugere que, assim como aconteceu com o Havai, o mesmo poderia ocorrer com Porto Rico.


Todo o álbum celebra a cultura porto-riquenha e latina, com ritmos envolventes e letras marcantes. No entanto, Bad Bunny também expõe, através dos visualizers de suas músicas no YouTube, os processos de colonização e exploração da ilha caribenha e do povo porto-riquenho desde a colonização espanhola, além do apagamento do povo Taíno, que habitava San Juan antes da chegada dos colonizadores espanhóis.


Reprodução / Instagram @badbunnypr

Dessa forma, Bad Bunny consegue expor toda a história sofrida do país, ao mesmo tempo que enaltece seu povo, que continua a cantar e resistir, criando cultura. Até mesmo a capa do álbum, que mostra apenas duas cadeiras de plástico, evoca uma sensação nostálgica, criando um laço com as memórias do povo latino-americano.


Com seu novo álbum, Bad Bunny demonstra que a arte é resistência e que a América Latina ainda existe e resiste, apesar de todos os problemas. E, como ele mesmo diz, "não há nada como o sazón latino".


Onde encontrar:


Mini-documentário "El Apagón - Aquí vive gente"


Visualizer "Una Velita"


Álbum "Debí Tirar Más Fotos"

1 Comentários

  1. Adorei o post! Não sabia disso e fiquei interessada em conhecer o álbum do Bad Bunny.

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